terça-feira, 28 de outubro de 2008

O DIA EM QUE O ROCK MORREU

Na mitologia grega, a Fênix era o nome dado a um pássaso considerado sagrado, que quando morria, entrava em auto-combustão e renascia das próprias cinzas. Com certeza você deve estar se perguntando o que isso tem a ver com o rock? Pois tal como a ave mitológica, o rock precisou morrer para renascer com toda a força e energia que conhecemos hoje.

Vamos voltar um pouco no tempo, mais exatamente para a década de 1950. Após a II Guerra Mundial, os EUA consolida-se como potência mundial, e colhe os louros de um crescimento econômico impulsionado pelo desenvolvimento tecnológico e pelo boom do consumismo entre os jovens. Ao mesmo tempo, o pensamento da sociedade americana ainda era retrógrado e racista - as músicas dos negros só tocavam nas rádios em determinados horários, exatamente para que ninguém pudesse ouvir. Tudo isso mudou quando um jovem motorista de caminhão que atendia pela alcunha de Elvis Aaron Presley surgiu no cenário musical, iniciando uma revolução social nunca antes vista.

A música negra passou a ser regravada por artistas brancos, abrindo o espaço que seus criadores precisavam para alcançar o sucesso. Nesta época surgiram gênios como Chuck Berry, Little Richard, Jerry Lee Lewis, Bill Halley, Buddy Holly, Fats Domino, Johnny Cash, Carl Perkins, dentre outros. Nas letras, temas como festas, mulheres, e insinuações sexuais predominavam. Shows lotados de meninas histéricas e de jovens com os hormônios a flor da pele. Um prato cheio para os moralistas de plantão.

Não demorou para que associações de pais, membros da igreja, conservadores e políticos se manifestassem contra o rock, colocando nele a culpa dos jovens terem se tornado rebeldes sem causa. Muitos shows foram cancelados. Uma das histórias da época foi a de que Elvis havia sido proibido pelo prefeito de uma cidade de chacoalhar sua pélvis durante o show, caso contrário seria preso. Câmeras de vídeo foram instaladas para monitorar a apresentação do rei do rock. Não adiantou muito - mesmo mexendo apenas o dedo mínimo de uma mão, Elvis levou a platéia ao êxtase.

A preocupação com o avanço do rock'n'roll pela América atingiu o alto escalão governamental. Como a mudança de valores dos jovens poderia afetar as relações de poder entre as instituições, a solução encontrada foi a de "domesticar" os responsáveis pela "selvageria". E o primeiro deles foi exatamente o pioneiro, Elvis Presley. A convocação para servir o exército americano na Alemanha agradou inclusive seu empresário, o coronel Tom Parker, que via nisto uma oportunidade de melhorar a imagem de seu assessorado perante a opinião pública e, com isso ganhando mais fãs através da fama de "patriota" do roqueiro.

army picture 1

Se a pressão moral não foi suficiente para impor respeito, ações mais enérgicas deram conta disso. Chuck Berry foi preso por cruzar uma fronteira estadual com uma menor de idade. Jerry Lee Lewis viu sua carreira desmoronar quando a mídia trouxe à tona seu casamento com uma prima de 13 anos. Little Richard, um dos músicos mais controversos (era espalhafatoso, e suas músicas picantes demais para a época), acabou se convertendo ao Evangelho e virando pastor. Para completar a tragédia, o avião em que viajavam Richie Vallens, Buddy Holly e Big Bopper sofreu um acidente, matando os músicos. O dia do acidente, 3 de fevereiro de 1959, ficou conhecido como "o dia em que o rock morreu", imortalizado anos depois na música American Pie, de Don McLean:

E foi assim que a sociedade conservadora americana conseguiu matar o rock. O que eles não sabiam que, tal como a Fênix, o rock não morre jamais. As cinzas deste movimento musical fizeram novamente os acordes de guitarra ressoarem e meninas gritarem desesperadamente por seus ídolos, desta vez do outro lado do Atlântico, em uma pequena cidade chamada Liverpool. Mas esta é outra história...

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei ;]

Blog interessante