sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

ALGUÉM TEM QUE ORGANIZAR - ENTREVISTA COM LELÊ


Nem só de palco, luzes e instrumentos vive o mundo da música. Há quem sue, e muito, no bakstage. Para dar um exemplo de como o trabalho de produção é importante para o artista, dessa vez entrevistamos Leandro "Lelê" Bortholacci (na foto, sentado), ou simplesmete Lelê.
Da Guedes, Comunidade Ninjitsu, Fresno, Cachorro Grande...Esses são só alguns nomes que contam no currículo do sujeito. Confere.


Rock’n’Talk - Conta um pouco como começou tua carreira como produtor e o início dos trabalhos da Olele Music.

Lele - Eu sou amigo de infância do Rafael Malenotti (dos Acústicos e Valvulados) ele tinha um estúdio que grande parte das bandas da geração 90 ensaiava e eu estava sempre por lá. Além dos Acústicos, Comunidade Nin-Jitsu, Ultramen, a Tequila Baby, a Da Guedes e outras ensaiavam lá. Me chamou a atenção que todas eram legais dentro de seus estilos, mas não tinha ninguém pra "organizar" isso, saca ? Como eu sempre fui ligado em música, mas não sei tocar nenhum instrumento, resolvi me dedicar à parte técnica, burocrática e administrativa dessa cena. Eu comecei a trabalhar como roadie em 1995. Um ano depois já estava fazendo produção de estrada e em 97 abri a minha produtora própria, a LB Produtora, que agora em 2008 passou a se chamar Olelê Music.



Rock’n’Talk - Quais as primeiras bandas que você produziu?

Lele - A primeira foi uma banda de cover, chamada Rastamanos. Ela era formada por integrantes da Comunidade e Ultramen. Faziam só covers de reggae e ficaram muito populares no interior do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Ao mesmo tempo, começamos a produzir material das bandas dos integrantes e divulgar pelo interior. Nessa época as bandas covers faziam muitos shows, ao contrário dos grupos de música própria que ficavam restritos ao circuito da capital e da Grande Porto Alegre. Mas quando começamos a produtora os primeiros nomes que a gente trabalhou foram: Rastamanos, Comunidade Nin-Jitsu, Ultramen, Tequila Baby e Fernando Noronha & Black Soul.

Rock’n’Talk - Para quem está começando na carreira, o que é mais importante? Focar em determinado estilo ou fazer o máximo de contatos possíveis?

Lele - O mais importante acima de tudo é encarar como um trabalho. Pra mim, essa é a essência de tudo. Se quer ter uma banda pra ficar famoso vai quebrar a cara. A música virou um business igual a qualquer outro. Existem pessoas profissionais e amadoras, competentes e incompetentes, sérios e picaretas. Fazer shows no final de semana é consequência de um trabalho que a banda tem que realizar, que começa com a formação de um grupo, a preocupação em ter um visual legal, saber fazer uma boa divulgação pela web e por aí vai. A internet é "o" canal pra banda novas, não adianta. Essa é a nova realidade. Quem não se der conta disso vai ficar pra trás.

Rock’n’Talk - Algumas bandas do casting da Olele, como Cachorro Grande e Fresno, acabaram se mudando para São Paulo. Em que momento essa mudança geográfica deve ser feita? Ainda existe aquela realidade de o melhor mesmo é estar no centro do país (Rio de Janeiro ou São Paulo)?

Lele - Bicho, a mudança geográfica faz parte de a banda saber o que quer da vida, porque ir pra uma megalópole como São Paulo é uma decisão que mexe com toda a vida do cara. Mesmo que estas duas bandas tenham ido morar na mesma cidade, os momentos foram diferentes. No caso da Cachorro Grande, foi uma opção na época, pois quando assinamos com uma gravadora (a Deckdisc) eu pedi um advanced, mas em vez de dinheiro, pedi que alugassem um apartamento em São Paulo pra banda morar. Isso foi uma estratégia montada pelo fato de que estávamos lançando um disco pela revista do Lobão (quando assinamos com a Deck) e grande parte da agenda de divulgação seria por lá. Isso facilitou muito a colocação da banda nos programas e a realização de shows no circuito da capital e do interior paulista. A idéia foi simples pois lançamos dois discos em menos de um ano e esta fixação da banda por lá com certeza ajudou em tudo isso. Até na questão como as pessoas do sul começaram a enxergar a Cachorro Grande, pois eles começaram a aparecer muito na mídia que vem de lá. Já no caso da Fresno foi uma situação um pouco diferente. Primeiro que todos os integrantes eram mais novos e ainda moravam com os pais em Porto Alegre; segundo que alguns ainda tinham outros empregos além da banda e todo mundo precisa de grana pra viver. A Fresno (até antes de trabalhar comigo) já fazia um circuito de shows na grande São Paulo; um circuito sólido (de onde saíram CPM22, NX Zero e Strike por exemplo) que ajudou a banda a se fixar por lá. Quando fomos lançar o terceiro cd, decidimos que era a hora de ir, que estar lá faria muito bem pra banda. Como eles já tinham um bom número de shows e um cachê que dava pra se sustentar em São Paulo, alugamos uma casa e a banda se fixou por lá. Os resultados estão aí pra quem quiser ver.


Rock’n’Talk - Como é administrar uma banda na estrada? É preciso sempre estar junto com o grupo ou um bom trabalho de informações sobre mapa do palco e rider é o bastante?

Lele - A estrada é o que vai definir se a banda "vai ou não vai". Se os caras forem guerreiros de verdade tem é que cair na estrada e encarar tudo. Já vi banda ter que fazer show pra seis pessoas e foi lá e tocou, como se tivessem 6 mil. Alguns anos depois eu vi essa mesma banda tocando pra sessenta mil pessoas, entendeu? Tem que ser persistente, tem que estar a fim, tem que encarar como trabalho. Tem que ter disciplina, ensaiar pra caramba, conhecer bem os integrantes da sua banda. É preciso ter humildade acima de tudo, tem que ser verdadeiro. Tem que fazer o som que acredita, que gosta, não o som da moda! A moda muda rapidinho...
Mas voltando a falar de estrada, é preciso se organizar, sim. Mesmo que não tenha ainda uma equipe técnica, algum integrante da banda pode pegar e fazer um rider técnico, se organizar. Claro que em shows menores, a estrutura é menor, mas eu penso que é importante a banda começar "do começo" mesmo. Tem que encarar as roubadas da estrada, tem que encarar som ruim, casa vazia, viagem de ônibus de linha, sem hotel... É isso aí bicho! Assim se adquire experiência de vida. É essa experiência que pode fazer toda a diferença lá na frente. Se um dia a banda der certo e estiver tocando pra dezenas de milhares de pessoas, quando o cara não conseguir mais sair na rua direito, ele vai saber lidar muito mais com isso se for uma pessoa que tenha se ferrado algumas vezes. Deixo aqui esse toque pra quem tá começando: verdade, profissionalismo e humildade acima de tudo. Mas também um som bem tocado, um visual legal, um My Space e um site bacana, uma comunidade ativa no Orkut e por aí vai.

2 comentários:

juliana disse...

bah mas e aí, entraram de férias e esqueceram do blog?

Alyne disse...

Opa!
Beleza?
Bixo... eu tava procurando demais uma orientação dessas.
Vou tentar entrar em contato com o Lelê.
Temos uma banda (www.myspace.com/ramonarock) e é muito difícil mesmo resolver essas paradas da organização.
Sempre que puder vou voltar aqui!!
Parabéns pelo post!
Alyne