segunda-feira, 3 de novembro de 2008

BATERIA NOS QUATRO CANTOS DO MUNDO

Psychic Possessor, Ratos de Porão, I Shot Cyrus...Essas são algumas bandas que contam com Mauricio Luiz Alves nas baquetas. Mais conhecido como Boka (de camisa amarela na foto acima), o cara já viajou meio mundo tocando hardcore, montou um selo independente e vive tão e somente de música e para a música. Conversamos com ele e ficamos sabendo um pouco mais sobre sua história e suas opiniões sobre tours, MP3, downloads e a situação do mercado fonográfico.

Rock’n’Talk- Você comanda a bateria de bandas muito importantes na cena punk/hardcore independente do Brasil, como Ratos de Porão e I Shot Cyrus, além de ser proprietário de um selo bem bacana, que tem um catálogo muito bom. A partir de que momento da tua vida você decidiu que poderia viver para sempre da música e pela música, mesmo não estando em paradas mainstream?

Boka - Eu comecei tocando profissionalmente com o Ratos de Porão em 1991, eu tinha somente 19 anos e morava com meus pais, não tinha responsas nem nada, mas ganhava um bom dinheiro. Muitos acham pouco, mas não era nada tão ruim assim, com o tempo vieram as responsas, saí da casa deles, nasceu minha filha, me casei, etc.. Aí comecei o selo pra me ajudar financeiramente. Muitas vezes eu passo apertado, mas por enquanto vou levando, sou um cara simples, ñ tenho muitas ambições materiais, ganho pouco mas faço o que gosto. Eu simplesmente respirei isto tudo minha vida quase que inteira, então nunca houve este momento de perceber se poderia viver de música ou não, eu simplesmente vou fundo e luto.

Rock’n’Talk- Com o Ratos de Porão você viaja todo ano para a Europa. Como é esse lance de organizar uma tour, qual é oprimeiro passo?

Boka - Hoje é tudo mais fácil e uma banda com o nome que temos fica mais simples ainda. Na verdade fomos fazendo contatos e amizades durante todos estes anos e montar nossas tours não é difícil, apesar de ser trabalhoso. Uma banda tem sempre que estabelecer contatos e relações com outras bandas, ser ativa... Assim as coisas virão naturalmente. As bandas menores em termos de nome começam indo fazer tours assim, simplesmente com ajuda de amigos.

Rock’n’Talk- Nos fala um pouco de como é a recepção lá fora (tanto com o RDP como com o I Shot Cyrus) e como funciona o circuito independente Europeu (squats, clubs, festivais open air).

Boka - Todos os lugares apresentam diferentes particularidades. No caso do RDP, fazemos qualquer tipo de shows, tento viver cada show e cada dia de maneira diferente. Pra mim todo show divertido é bom, seja ele para 100 ou 1000 pessoas. Muitos clubes, squats ou youth centers na europa existem há tempo, o que torna fácil fazer um circuito. Acho que a grande dificuldade aqui no Brasil são os locais que duram no máximo 3 anos. No caso do ISC acho que é a mesma coisa, porém em menores proporções. No hardcore as pessoas sempre te ajudam, curtem o som, identificam-se com idéias e sempre te recepcionam muito bem, salvo raríssimas exceções.

Rock’n’Talk -Com o Vitamin - X você chegou a fazer uns shows pela Ásia. Por quais países passou e como é a cena por lá?

Boka - O cenário no sudeste asiático é muito empolgante, as pessoas são bem ativas por lá, sempre fazem zines, bandas, shows, etc...O público é grande e todos estão sempre muito afins de ver as bandas. Existem grupos muito bons por lá e a experiência foi incrível.

Rock’n’Talk- Você deve ser referência para uma pá de moleques que curtem som rápido. E as tuas influências? Quem foram os bateristas que te serviram de inspiração, seja no hardcore ou em outros estilos musicais.

Boka - Quando eu comecei a tocar batera eu curtia muito o trash britânico e o crossover americano da metade dos anos 80. Alguns nomes a citar seriam: Intense Degree, Heresy, Napalm Death, Wehrmacht, D.R.I., C.O.C, Hirax, etc...

Rock’n’Talk- A respeito da Pecúlio, como você vê essa era do download? O caminho para a sobrevivência dos selos independentes é a segmentação, tipo, ser muito bom em um estilo musical e focar só nele?

Boka – Eu não vejo problema no download em si, mas o que acontece é que a internet esta mudando rapidamente as relações humanas de maneira radical e talvez irreversível. Como existe um excesso e facilidade na obtenção de informação, as pessoas acabam não refletindo sobre o que ouvem, apenas escutam e deletam as coisas em um clic, exatamente como fazem na rede.Pessoas baixam as musicas somente por baixarem, não estão mais interessadas no álbum, na parte gráfica, nas letras, na dificuldade que é fazer um disco de qualidade, tudo esta sendo banalizado de forma assustadora, é mais uma vitória do capital na minha opinião. Não pense sobre nada, apenas faça e gaste dinheiro. Muitos acreditam que estão economizando alguma grana não comprando discos, o que em termos de volume pode até ser verídico, porém todos os capitalistas continuam ganhando muito dinheiro somente os músicos que não. As empresas de eletrônicos vendem os aparatos (computadores, ipods, mp3, pendrives, celulares etc..) a maioria tem que pagar um provedor... O $$ só esta indo pras outras mãos, somente os músicos são prejudicados e alguns selos independentes. Outro agravante é que a qualidade da música cai muito com a tecnologia, bandas horríveis ficam boas maquiadas nos estúdios, fazem sucesso na rede antes sequer de ter encarado um palco de verdade, e isso faz com que a qualidade caia muito, pois fazem o caminho inverso. O que deixa uma banda boa é a estrada e não ficar punhetando na rede. A rapidez da divulgação, não caracteriza uma vitória, isso é muito importante de se dizer.

Um comentário:

juliana disse...

achei o ultimo comentário do boka super pertinente e interessante. nunca tinha pensado dessa forma, por esse ponto de vista. e é um puto fator a ser considerado.