segunda-feira, 10 de novembro de 2008

"TEM QUE RALAR MUITO"



Viver de música não é uma tarefa fácil. Viver estritamente da música que você gosta de tocar é ainda mais complicado. Mas a cada dia que passa, fica claro que, com um pouco de foco e teimosia, as coisas acontecem. Nosso entrevistado dessa vez é Gabriel Zander (na foto, ao centro), a.k.a Bil que há mais de uma década está na batalha na cena independente brasileira. Noção de Nada, Deluxe Trio e Discoteque são algumas das bandas que o sujeito capitaneou. Com o tempo de estrada, veio a vontade de montar o próprio estúdio. E lá foi ele montar o Superfuzz, instalado hoje no bairro do Humaitá, no Rio de Janeiro.

Em nosso bate-papo, Bil conta sobre os perrengues que se passa quando se está longe do mainstream, a busca pelo aperfeiçoamento nas gravações e seus planos para o futuro.

Rock’n’Talk - Você passou por bandas que tiveram grande respaldo na cena independente brasileira Noção de Nada, Deluxe Trio, Discoteque como administrar tours, distribuição de cd e venda de merchandising não tendo uma major por trás?

Bil- Cara, tem que ter muita força de vontade mesmo, muita determinação e muito foco pra não acabar rolando confusão e prejuízo. No meio independente, todas as funções dependem umas das outras e como é você mesmo que tem que cuidar de tudo, é preciso ter muita organização, acho que essa é a parte mais importante e mais difícil. Ser organizado e a cima de tudo amar estar envolvido com isso, por que se não gostar muito mesmo, não vale a pena. Não há um retorno financeiro significativo que te permita trabalhar menos no meio independente, nem pra maior das bandas independentes, pode apostar, tem que ralar muito.

Rock’n’Talk - Qual foi a primeira ferramenta de gravação que você teve contato? No disco Trilogia Suja de Copacabana, teve muita coisa que você gravou em casa mesmo, não? Como foi isso e que tipo de equipamento vocês usaram?

Bil - O disco foi todo gravado na minha casa, especificamente no meu quarto. Minhas ferramentas eram um computador com o Pro-Tools, uma interface Digi 001 e 4 microfones Shure SM58, nada além disso. Adoro o resultado do disco e até hoje acho que é o melhor disco q já fiz, principalmente levando em consideração a falta de recursos que te obriga a ser mais criativo em todos os sentidos. Tenho ótimas lembranças dessa época.

Rock’n’Talk - Depois de quanto tempo tocando você decidiu começar a se aperfeiçoar com as ferramentas de estúdio?

Bil - Acho que depois de uns 10 anos tocando, sempre fiquei frustrado com as gravacoes que fazia em estudios profissionais que alugavamos por hora. Nao por falta de recursos ou conhecimento tecnico do pessoal dos estudios, mas mais por uma questao de referencia mesmo, tipo chegar lá e o cara conhecer as bandas e os discos que eu adorava, que eu queria atingir uma sonoridade próxima, ter os timbres como referência. Isso era muito dificil e nunca chegava num resultado que me agradasse 100%. Foi ai que o velho espirito punk do faça você mesmo ou voce tá
ferrado bateu e resolvi por a mão na massa de verdade e começar a gravar eu mesmo, daí a coisa foi crescendo e acabou se tornando a minha profissão. Mas desde moleque sempre fiz gravações caseiras, gravando demos ultra toscas em casa, sempre adorei esse processo.

Rock’n’Talk - Quanto tempo levou e como foi o processo para montar o Superfuzz?

Bil - Rapaz, acho que foi mais de um ano entre a idéia inicial de montar o estúdio até o processo todo de procurar um espaço pra alugar, conseguir alguém que topasse alugar pra gente, fazer obra, adquirir equipamentos, etc. Acho que demorou mesmo uns dois anos até o estúdio poder abrir as portas oficialmente desde a nossa primeira conversa sobre isso.


Rock’n’Talk - O plano para o futuro é se dedicar cada vez mais à produção de discos de outras bandas?

Bil - Sim, gostaria de produzir mais bandas nas quais eu acredito e me identifico, acabo sendo muito mais técnico do que produtor, porque produzir exige muito mais tempo com a banda e ainda não existe muito a cultura do pessoal saber separar o trabalho de técnico do trabalho de produtor, por isso não acham necessário pagar mais por esse trabalho e acham q por você estar ali gravando e operando te faz também o produtor do disco deles, o que nao é verdade. Produção é outro trampo que eu gosto bastante, mas preciso gostar e me identificar com a banda de alguma maneira.

Rock’n’Talk - Se quiser divulgar uma banda que tenha gravado disco no Superfuzz, fica à vontade para dar o toque e o pessoal poder conferir o trampo

Bil - Gostaria que o pessoal desse uma olhada no trabalho da Stripclub.

Rock’n’Talk - Quais são os planos com a banda Zander? Vai rolar tour, shows por outras cidades? Qual é a pilha do som?

Bil - Os planos são de compor o máximo de músicas o mais diferentes umas das outras possível, gravar o máximo de idéias e transformá-las em discos, lançar, ensaiar, tocar, fazer videoclipes, etc. Queremos fazer tours sim, porém com um mínimo que julgamos necessário de organização e de estrutura, estamos todos mais velhos, com muitas responsabilidades fora da banda e queremos fazer as coisas da melhor forma possível, sem afobamentos e sem nos rebaixarmos a certas situações pelas quais já passamos.

Um comentário:

Unknown disse...

Bah, muito legal entrevistarem o Bil. Saudades do noção de nada.