segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O PESADO VERÃO EUROPEU - ENTREVISTA COM JUNINHO (DISCARGA)


Na cena independente, o lema Faça Você Mesmo parece sempre vir acompanhado com uma inevitável tendência à hiperatividade. O cara que sobe ao palco é o mesmo que marca os shows, organiza as tours e divulga seu som pela internet.
Para não fugir à regra, o entrevistado da vez é Paulo Sergio Sangiorgio Junior (A.K.A Juninho). Atualmente ele pilota o contrabaixo dos Ratos de Porão e Discarga, além de ser integrante do projeto Eu Serei a Hiena, que conta com várias figuras carimbadas do underground nacional.
Recém chegado de uma tour européia com o Discarga, Juninho nos conta como foi a maratona de 43 apresentações pelo velho continente. Espanha, Alemanha, República Tcheca e Itália foram alguns países visitados. Confere.


Rock'n'Talk - Nesse ano, o Discarga passou um bom tempo na Europa. Explica para nós como foi o processo de organizar uma tour tão extensa. Com quem vocês contaram lá fora e com que banda dividiram o dia-a-dia na estrada?

Juninho - O Discarga realmente fez uma tour bem grande nesse verão europeu de 2008, foram 43 shows no total, em uns 15 países diferentes. A organização da tour foi tranqüila, pois ela foi dividida por partes e pessoas diferentes que nos ajudaram por lá. O nosso novo disco foi lançado na Europa, por um selo alemão e outro polonês, daí esse pessoal ajudou muito a gente com tudo, e o melhor de tudo que entramos em contato com eles a bastante tempo, desde dezembro de 2007 já estávamos nos falando e organizando tudo. Com toda essa antecedência ficou fácil marcar esses shows. Daí numa segunda parte da turnê um amigo espanhol nos ajudou com os shows por lá. Portugal foi tranqüilo também para marcar, velhos amigos de lá nos ajudaram e no final das contas foi só ter um pouco de paciência para juntar todos os contatos, as cidades, organizar tudo e começar a girar pela Europa. A turnê começou em Berlin, de lá mesmo vive o camarada que lançou o disco, daí ele nos ajudou a alugar equipamento (bateria, amplificadores), e nos ajudou a alugar a van, tudo num mesmo lugar que que se chama Yellow Dog, e eles trabalham com bandas faça-você-mesmo à anos. Eu mesmo fui o motorista da tour, e nossa amiga Andreza (baterista da banda Justiça) foi com a gente para vender merchandise, portanto éramos 4 pessoas no total.
Dividir palco foi o que mais fizemos na turnê!! Foram inúmeros shows com bandas ótimas de todos os tipos, mas fizemos a turnê sozinhos, tipo sem nenhuma banda tocando juntos todos os shows.



Rock'n'Talk – Quais lugares vocês tiveram um melhor retorno do público?

Juninho - Nessa turnê nosso maior retorno do público foi sem dúvidas o Obscene Extreme Festival. Ele acontece já a 10 anos, e é o maior festival de grind core/metal/punk da Europa. Fica na cidade de Trutnov, na República Tcheca. Lá tocamos para umas cinco mil pessoas, público insano mesmo, foi realmente muito bom para nós. Nesse dia vendemos muitos discos, cds, camisetas, e muita gente veio falar com a gente depois do show. Inclusive fomos convidados para tocar numa apresentação de última hora, um festival de grind na Alemanha chamado Grind The Nazi Scum. Os caras viram nosso show e fizeram o convite lá mesmo. Nesse festival tocamos com o Extreme Noise Terror, Impaled Nazarene, Agathocles, Regurgitate e mais uma dezena de bandas!! Foi realmente muito bom pra nós. Na semana seguinte tivemos muita gente acessando e adicionando nosso Myspace, foi uma loucura.


Rock'n'Talk – Em comparação com a realidade brasileira, como rolam os festivais independentes na Europa? Alguns são bem grandes, como o Ieper e Obscene Extreme. Como foi essa experiência?

Juninho - Nós já tínhamos participado do Ieper em 2003, e tocamos lá esse ano também. A diferença é imensa, pois é um festival na Bélgica, tudo de primeiro mundo, num esquema totalmente profissional. A estrututa, em todos os sentidos, é de primeiro mundo, desde o palco, comida, etc. O Obscene também não peca em nada, super estrutura boa em todos os sentidos, hotel para as bandas e tudo mais. Aqui no Brasil as coisas funcionam diferente, principalmente na parte cultural. Cara, esses dois festivais são no meio do nada, cidades minúsculas onde as pessoas levam barraca e ficam acampadas todos os dias. Daí eu fico imaginando isso aqui no Brasil. Nunca funcionaria, o pessoal não tem esse costume, as pessoas daqui que saem com uma barraca de casa é para acampar em cidade do interior ou praia pra terem tranqüilidade. A experiência sempre é ótima, ver como as coisas funcionam em outras culturas, no modo de se organizar e tal, é bem legal. Agora em janeiro um pessoal aqui de São Paulo está fazendo o Full Fest, uma idéia um pouco mais parecida com esses festivais europeus. Eu espero que dê tudo certo e role sempre.


Rock'n´Talk – Como você vê a cena straight-edge no Brasil atualmente? Quais bandas, além do Discarga, que você acha que as pessoas deveriam dar atenção?

Juninho - A cena Straight-Edge brasileira anda muito bem, como sempre muita gente organizando shows, fazendo bandas, coletivos, etc... A produção no meio SXE é sempre bem interessante, eu percebo sempre diferentes opniões dentro da mesma cena, a galera discutindo e produzindo algo contestador de verdade. Independente de que muita gente fale mal do SXE, ele tem uma importância fundamental na cena brasileira e mundial, com suas bandas, fanzines e eventos. Eu não gosto muito de citar bandas, pois sempre esqueço algumas e daí fica chato, mas pelo menos aqui em São Paulo tem muita coisa rolando em Sapopemba, Carapicuíba, Osasco. Uma galera straight-edge de bom gosto que faz muita coisa e vale a pena o pessoal correr atrás pra saber.


Rock'n'Talk - De todos os lugares que você já visitou fazendo tours, qual foi aquele que deu mais vontade de voltar? (seja por causa da música ou das experiências passadas por lá.)

Juninho - É impossível citar apenas um local, pois lá você vive uma diversidade enorme todos os dias. Os países são pequenos, portanto um dia você está na Croácia, que tem uma língua, uma cultura, daí viajando seis horas ou menos você pode estar na Eslovênia, por exemplo, que é totalmente diferente. Eu gosto muito dos shows na Itália, os lugares são muito bonitos e a galera é muito receptiva. Já na Polônia o povo é mais fechado, mas ao mesmo tempo você percebe que eles são um tipo de terceiro mundo europeu e tem muita coisa em comum com a gente no aspecto social. Na Holanda o pessoal é mais quieto, mas sempre os shows e festivais são ótimos, sempre vemos muitas bandas ótimas lá, como Manliftingbanner, Seein Red, Vitamin X...

Rock'n'Talk– Fala um pouco dos planos do Discarga para o ano de 2009. (discos, shows, tours)

Juninho - O Discarga em 2009 pretende fazer bastante shows por onde der, após o lançamento do disco ainda não tocamos no Brasil, pois nosso vocalista volta só em janeiro de uma viagem e estamos paradas desde a tour. Pretendemos gravar um material no final de 2009, para um split com o Seein Red, que esperamos que dê tudo certo, pois lá nessa viagem já deixamos tudo acertado com eles, mas nunca se sabe, vamos todos torcer pra rolar.
Não temos como pensar em tours agora e em 2009 imagino que vamos ficar só dentro do país mesmo, ao menos que role algo na Argentina. Europa talvez só daqui há dois anos, pra dar continuidade ao trabalho que estamos fazendo por lá.

5 comentários:

Anônimo disse...

Bela entrevista.
Sei bem como é a correria atrás de show, divulgação e tudo mais.
O Juninho tá nessa a muito tempo tbm, tem a manha!
Exemplo de persistência!

Let disse...

conheci o blog hoje e já resolvi comentar. adorei todo o conteúdo.
só fiquei triste por não ter RSS!

abraço.

Leonardo Prado disse...

foda, banda ótima e galera sangue bom pra caralho.
Rules!!!

Anônimo disse...

Muito bom!!! Juninho sempre muito gente fina!!! Hardcore do bom!!!

pedro disse...

Sou fã do discarga é uma banda responsa e o juninho é pra mim o melhor baixista no estilo no Brasil pra mim!!